terça-feira, 24 de setembro de 2013

Combatendo o Bullying/Cyberbullying

O Bullying é um fenômeno bastante conhecido nas escolas e, ultimamente, também fora delas. Diversas situações que há pouco tempo atrás eram tidas como "normais" ou "brincadeiras", hoje sabe-se que são casos de bullying. Com o avanço tecnológico, como era de se esperar, vem se proliferando os casos de Cyberbullying que é a prática virtual do bullying. Apesar de apenas "os meios" onde as agressões acontecem serem diferentes, existem algumas características importantes que os diferenciam. Ao contrário do Bullying, o Cyberbullying acontece através das ferramentas digitais, tendo como práticas comuns:
  • Molestar e/ou perseguir a vítima através de e-mails, mensagens SMS/MMS ou nas redes sociais;
  • criar sites, blogs ou mesmo enquetes em redes sociais para eleger colegas da sala de aula com características estereotipadas (quem tem o maior nariz, quem é o mais feio da classe, etc);
  • criar perfis falsos em nome da vítima ou mesmo roubar suas senhas, para difamar pessoas nas redes sociais (ou através de e-mails e mensagens), fazendo-se passar por ela;
  • alterar e/ou publicar fotografias da vítima sem que haja prévio consentimento;
  • excluir a vítima socialmente em jogos on-line, chats, redes sociais, geralmente criando círculos sociais excludentes;
Mas as diferenças com o bullying "tradicional", não param por aí. O cyberbullying pode ser ainda mais covarde, pois os agressores se escondem atrás do "anonimato" (apenas para reforçar, anonimato com aspas duplas) que a rede proporciona, perdendo seus freios morais e não temendo punições, fazendo que as agressões tornem-se ainda mais cruéis. Nos casos de bullying como vítima e agressor geralmente estão frente a frente, a vítima sabe quem a está importunando. Mas e no cyberbullying, quem é o agressor? Será o garoto mau encarado que me olha do canto da sala? Será o professor? Será meu suposto "melhor amigo"? Seria a turma toda ou somente um grupo? Como proteger-se de alguém que não se conhece?  E note, nos casos de cyberbullying, pouco importa a "relação de poder" definida pelas especificações físicas dos envolvidos no mundo real.  Ou seja, nada impede o garoto tímido e franzino que senta na primeira fila a atormentar digitalmente o garoto de baixa auto estima que é "dobro do seu tamanho" sentado lá no fundo da classe.

Alie-se a isso a velocidade com que uma informação se espalha na Internet, e teremos um problema de proporções muito maiores. Aqui vale lembrar a frase do ex-primeiro ministro britânico James Callaghan: "Uma mentira pode dar a volta ao mundo, antes que a verdade possa calçar as botas". Nos casos de bullying geralmente o público das agressões é local. Suponhamos que um episódio de bullying acontece no pátio de uma escola. Talvez 100 crianças o tenham presenciado, e vamos apenas como suposição, imaginar que cada uma dessas crianças contou aos seus pais; além disso, imaginemos que alguns professores e funcionários da escola também fiquem sabendo do caso, temos aí um público de aproximadamente umas 400 pessoas (sim, eu sei, uma estatística muito mal feita mas creio que você entenderá meu ponto de vista). Mas o que fazer quando 400 pessoas viram 400.000 pessoas? Se a agressão for gravada e o vídeo se encontra na Internet, o público alvo é limitado apenas pela quantidade de pessoas existente no globo terrestre. Já a quantidade de visualizações é ilimitada, uma única pessoa pode ver quantas vezes quiser. E nesse contexto, é também uma característica do cyberbullying a inexistência da "necessidade de repetição das agressões", em função da quantidade de pessoas que esse tipo de violência pode atingir num curto espaço de tempo.  O bullying, pelo contrário, é caracterizado por sucessivas agressões (repetitivo), ao invés de uma única agressão isolada.

Porém no meu ver a principal diferença entre ambas as formas de agressão é o ambiente:
  • Bullying: o lar, os muros de casa são geralmente um refúgio, uma proteção para a vítima. Mesmo que ela não se sinta confortável para discutir essa situação com seus familiares, em casa, o agressor não pode alcançá-la. 
  • Cyberbullying: o lar deixa de ser um refúgio. As agressões, têm o potencial da Internet para atingir suas vítimas, ou seja, desconhecem fronteiras. No conforto do seu quarto a vítima não está imune a receber mensagens desaforadas, e-mails de difamação e etc.
O cenário fica ainda mais complicado, se pensarmos que a geração atual se diverte, aprende, se socializa, enfim, vive on-line. A vítima pode deixar de relatar o problema aos pais, com medo que esses, despreparados para lidar com o problema, a impeçam de usar o computador ou venham a remover seu acesso a Internet, um dos motivos pelos quais escolhe, erroneamente, sofrer calada. 


No que se refere as consequências dessas práticas, tanto vítimas de bullying quanto de cyberbullying podem sentir medo, vergonha, raiva pelo constrangimento e/ou humilhação sofridas, instabilidade emocional, desconfiança e animosidade no convívio escolar (em especial nos casos de cyberbullying já que todos a sua volta tornam-se suspeitos); as vítimas tornam-se afastadas e agitadas, deprimidas, com possível queda de rendimento escolar, perda de interesse em eventos sociais, transtornos psicológicos que podem inclusive se refletir na fase adulta e em casos extremos, geralmente quando as vítimas não procuram ajuda, pode levar ao suicídio. É importante lembrar que a vítima não deve ser vista como absolutamente "frágil", bem como o agressor como um "valentão" (apesar da própria ação fazer referência a esse comportamento), afinal, somos seres humanos e todos temos nossas competências e também fraquezas. O mais importante a ser ressaltado, principalmente para nossas crianças e adolescentes é que orgulho nem sempre é uma coisa boa e que precisamos pedir ajuda caso não consigamos lidar com essa situação. 


Alguns casos de cyberbullying tiveram grande repercussão e você pode ler mais sobre eles através de seus links abaixo:
  • Megan Meier suicidou-se aos 13 anos, após uma vizinha criar um perfil numa rede social para relacionar-se com ela fingindo ser um garoto apaixonado. Após conquistar a menina, o agressor direcionou-lhe diversas ofensas. O caso teve tamanha repercussão que a mãe de Megan criou a Megan Meier Foundation, uma ONG que procura auxiliar vítimas de Cyberbullying. 
  • A mãe de um adolescente de Carazinho/RS foi condenada a pagar R$5.000,00 pelo cyberbullying praticado pelo filho. O jovem criou uma página na Internet com o objetivo de ofender um colega de classe.
  • Em média 3 casos de cyberbullying são atendidos por dia no Núcleo de Combate aos Cybercrimes de Curitiba (impressionantes 90 casos por mês). 
  • Os pais de duas adolescentes em Ponta Grossa/PR terão de pagar R$15.000,00 de indenização para jovem que foi vítima do cyberbullying cometido pelas suas filhas.  As infratoras invadiram a conta de uma rede social da vítima, alteraram sua senha, suas fotos e descrições pessoais fazendo diversos comentários de cunho sexual. A vítima precisou frequentar psicólogo e mudou de escola. 
  •  Outro caso recente que tomou grandes proporções foi o da menina Júlia Gabriele de 12 anos, que teve suas fotos publicadas num site de humor que fez "graça" com seus pelos faciais. Chocante nesse caso, são as mensagens que a menina postou na sua conta do Twitter, com apelos para parar com a "brincadeira" e mostrando sua indignação: "fiquei chorando o dia inteiro pq minha mãe não sabe oque fazer e meu pai ta na delegacia faz muito tempo"; "eh muito ruim ver pessoas zombando de vc, so pq vc não agrada elas por ser quem vc eh"; "e muito ruim ver sua mae chorar, se vcs tivessem no meu luga nao iriam querer ver sua mae chorando pq todo mundo te odeia". E a pergunta que fica é: valeu a pena a "brincadeira"? A diversão de muitos compensa o sofrimento de uma pessoa?

Apesar desse tipo de situação parecer "coisa de criança", é importante notar que o Cyberbullying não acontece apenas entre os pequenos. Você pode ser vítima no trabalho, no clube que frequenta, nos diversos meios sociais onde convive. Como exemplo, deixo o link para um vídeo muito interessante da jornalista e âncora da rede CBS Jennifer Livingston, que fala sobre uma mensagem recebida de um apresentador com críticas sobre o seu peso (duração 00:04:31)


 A mensagem da jornalista é muito interessante e acaba por antecipar uma conclusão, a qual chegaremos também nesse post: "Se estiver em casa e falar sobre a gorda das notícias, adivinhem? Suas crianças provavelmente irão para a escola e vão chamar alguém de gordo". Ou seja, geralmente nos casos de bullying/cyberbullying, como na grande maioria dos casos relacionados aos diversos preconceitos, o argumento é ensinado, é uma reprodução do que se vê (e é tido como normal) em casa. E as crianças geralmente fazem isso, sem se dar conta de que todos temos nossos problemas e geralmente os escondemos. Se você estiver num ambiente escolar, você é capaz de identificar visualmente quantas crianças tem problemas de bulimia? Quantas estão com depressão? Quantas sofrem violência doméstica? É impossível saber apenas visualmente e talvez suas atitudes ou palavras, possam ser o estopim para jovens debilitados emocionalmente, conforme Nicholas Vujicic define brilhantemente na sua palestra. Nicholas é um evangelista e palestrante motivacional que nasceu com Tetra-amelia (uma doença rara que causa a ausência dos quatro membros). Veja um trecho da sua palestra, onde ele fala sobre bullying e sobre o poder do encorajamento (duração 00:03:31).
 
Definitivamente, esse vídeo faz pensar no quanto nossas palavras e ações podem influenciar a vida das pessoas. Fazer pessoas sofrerem para que possamos nos divertir, além de não ser efetivamente "diversão", trata-se de um crime. É importante alertar que, embora não tenhamos uma legislação específica para os casos de Cyberbullying, algumas ações podem fazer com que o agressor responda criminalmente pelas seus atos, conforme o delegado de polícia Higor Vinícius Nogueira Jorge, cuja matéria na íntegra pode ser lida aqui:
 

Ou seja, mesmo que você não tenha participado da agressão, mas se você filmou alguém sendo agredido e subiu esse vídeo para um site de vídeos como o Youtube, por exemplo, estará cometendo o crime de injúria, cuja pena vai de 3 meses a 1 ano de detenção e multa. Nesse ponto é preciso reforçar a importância da participação dos pais na vida on-line dos filhos. Como vimos nos casos acima exibidos, "a mãe de uma adolescente foi condenada a pagar R$ 5.000,00", "os pais de duas adolescentes foram condenados a pagar R$ 15.000,00", ou seja, a responsabilidade recai sim sobre os pais. Ora, se serei responsável pelas ações do meu filho on-line, não tenho o direito de saber o que ele faz? Com quem ele anda se relacionando? Que tipo de informação adiciona na rede? Muitos pais se esquecem que, assim como é sua responsabilidade educá-los e protegê-los no mundo real, é também sua responsabilidade fazê-lo no mundo virtual. Assim como os pais monitoram de forma a proteger os filhos no mundo real (com quem vai? como vai? que horas volta? estabelece horários e etc), é também sua responsabilidade monitorá-los de forma a protegê-los no mundo virtual. Se oriento meus filhos de 13 anos a não falar com pessoas estranhas na rua, por que razão permitiria que ele falasse com estranhos cuja idade desconhecemos numa sala de chat, numa rede social?

Portanto não vejo como pensar a prevenção para os casos de Cyberbullying, que não passem por um acompanhamento maior dos pais em relação ao que seus filhos fazem on-line. Ferramentas como controle dos pais, por exemplo, auxiliam muito nessa tarefa, porém mais do que isso, é preciso uma relação aberta, um canal direto de comunicação entre pais e filhos onde o jovem tenha a liberdade de falar com seus pais e/ou responsáveis sobre assuntos diversos, incluindo o bullying. É preciso conscientizar os jovens sobre o quão incoerente é expor sua vida numa rede social como o Facebook onde se criam "perfis", ou em microblogs como o Twitter onde alguns expõem suas atividades diárias para o mundo todo (incluindo aqui, todos os tipos de "predadores"), e exigir "privacidade" dos pais. É como morar numa casa envidraçada no centro da cidade e exigir que os pais liguem antes de fazer uma visita. 

De maneira sucinta, seguem aqui algumas sugestões para tentar prevenir o cyberbullying:
  • Em casa, computadores com acesso a Internet devem ser colocados num local, onde os pais tenham ampla visibilidade, como a sala de estar ou um escritório, por exemplo, e não no quarto das crianças onde elas tem total privacidade. Lembre-se que não se trata de "controle" e sim de "monitoramento responsável" e é preciso que a criança ou adolescente entenda que suas responsabilidades são muito maiores (e portanto mais críticas) do que as dela.
  • Evite fornecer informações sensíveis como senhas, números de documentos, nomes completos, fotos e etc, em conversas de mensagens instantâneas e redes sociais, informações estas, muito interessantes para pessoas mal intencionadas.
  • Não acredite em tudo o que lê on-line. O fato de uma pessoa afirmar ter 15 anos, não significa que essa seja realmente sua idade verdadeira (ter cuidado principalmente quanto a questão da pedofilia).
  • Procure usar a “Netiqueta”, ou seja, a “Etiqueta na Internet”. Seja educado nas suas conversas on-line como se as estivesse tendo off-line. Talvez numa conversa você possa estar fazendo uma brincadeira num tom irônico, mas sem o "olho no olho" a ironia pode não ser compreendida e o  efeito não ser o desejado.
  • Se alguém lhe insultar on-line, não responda. Os cyberbullyies querem saber de seu aborrecimento, querem saber que lhe causaram mal. Não dê a eles esta satisfação, apenas ignore-os.
  • Não escreva mensagens quando você está nervoso/irritado. Acalme-se e redija a mensagem num outro momento. As pessoas geralmente se arrependem das mensagens “inflamadas” que mandam, mas uma vez que a mensagem foi enviada é muito difícil desfazer o “estrago” que ela pode causar. (Take 5).
  • Fique atento ao “Internetês” usado pelos seus filhos. É prática comum nos EUA expressões como:
             – PA = Parent Alert (alerta de “Pais” na área)
             – P911 = Parent 911 (alerta de “Pais” – EMERGÊNCIA)
             – PAL = Parents Listening (alerta de “Pais” escutando / lendo a conversa)
             – TAW = Teachers are watching (alerta de professores supervisionando)  
  • Regularmente, pesquise seu nome e o nome dos seus filhos no Google, e nas redes sociais. Isto geralmente mostra resultados como blogs os quais eles possuem, comunidades nas quais eles participam ativamente, possíveis “fakes” com o nome deles, etc. Isso dá a criança a real noção de “como” a informação deve ser compartilhada on-line (conheça o www.google.com/remove.html).
  • Converse com seus filhos sobre o assunto. Converse com seus alunos sobre o assunto. PROMOVA A DISCUSSÃO!!! Isso evita o isolamento e o “segredo” quando esse tipo de situação acontece.
  • Preste atenção quando seus filhos falarem sobre potenciais casos de bullying/cyberbullying e não subestime as situações reportadas. Se eles lhe contarem uma vez e você não mostrar interesse, talvez não venham a lhe contar novamente.
  • Seja amigo dos seus filhos on-line. Tenha uma conta nessas redes e saiba como elas funcionam. No Facebook, por exemplo, é possível “limitar” as informações que os grupos de amizades podem ter sobre você.
  • Afirmações do tipo: “Na minha época também tinha bullying e nem se sabia, era tudo brincadeira...” mais atrapalham do que auxiliam. Não é porque você foi forte que seus filhos precisam ser. Somos todos diferentes.
  • Pais ausentes na vida on-line dos filhos podem ser responsabilizados por sua omissão. Um menor de idade não pode publicar suas próprias fotos sem o consentimento dos pais (pois eles não entendem os riscos).
  • Se não parece certo/correto, provavelmente não é. Instrua seus filhos a confiarem nos seus instintos. Se durante a navegação ou conversas on-line eles se depararem com algo que os intimida, assusta, ou os deixam desconfortáveis, devem imediatamente chamar um adulto responsável.
  • Desconecte-se. Não existe a necessidade de estar sempre on-line, principalmente na infância/adolescência. Procure experimentar um pouco de realidade ao invés de "realidade virtual”. Pratique esportes, divirta-se com seus amigos. Redes sociais também existem no mundo real.
Outra maneira muito importante para combater o bullying/cyberbullying é a ação conjunta que envolve escola/família/comunidade. De nada adianta a escola tentar abraçar o problema se as famílias não estão preparadas e as vezes sequer reconhecem o problema. E do contrário, não adianta a família estar ciente se a escola que o aluno frequenta não estiver preparada para lidar com casos tão delicados. Mas dificilmente esse tipo de situação se resolve sem uma ação conjunta. E a conscientização das famílias, alunos e professores é importante, justamente por se tratarem do maior grupo nessa questão. Como disse Jennifer Livingston no vídeo referenciado acima, "as palavras cruéis de um, não são nada se comparada contra o grito de muitos". Nesse contexto, é importante atingir as pessoas que presenciam os acontecimentos, que não são nem vítimas nem agressores, que são apenas espectadores das agressões, para que elas se conscientizem de que têm maior poder de transformação enquanto um grande grupo. Ao invés de rirem junto, ao invés de se divertirem com o sofrimento alheio (muitas vezes estando desconfortáveis com a situação), por que não auxiliar? Porque não desencorajar esse tipo de comportamento? E se amanhã a vítima for você e os mesmos "amigos" que estavam rindo "com" você, rirem "de" você? Nessa linha faço referência a outro caso também marcante de John Haligan, pai de Ryan Haligan que cometeu suicídio aos treze anos, após ser vítima de cyberbullying. Depois do episódio com seu filho, John percorreu diversas escolas nos Estados Unidos para falar sobre o drama da família (duração 00:04:35). 

 
Impossível não deixar de mencionar a frase que John coloca no seu discurso: “O grupo que precisamos alcançar e atingir primeiro são as pessoas que não fizeram nada. As pessoas que simplesmente estavam lá e riram junto, que deixaram isso acontecer, para começar. As pessoas que estavam muito assustadas para se impor e dizer: Ei isso é errado!”. Os espectadores são o maior grupo; mais do que conscientizar as vítimas que elas precisam buscar ajuda, mais do que conscientizar os agressores de que essa prática é errada, cruel e equivocada, é preciso conscientizar os demais de que eles têm maior poder enquanto um grupo e que precisam se posicionar contra isso. Como disse certa vez Martin Luther King: “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!”. Nossas ações, enquanto um grande grupo podem transformar o meio social onde vivemos; podem até derrubar presidentes e nós brasileiros, já tivemos provas disso. 

Fui vítima de Cyberbullying e agora? Das recomendações que tenho lido desde que comecei a me aprofundar no tema a que julgo ser mais valiosa é de fato a mais simples: PROCURE AJUDA! É preciso conscientizar a vítima de bullying/cyberbullying que a culpa não é dela e prestar-lhe suporte, principalmente psicológico nas questões associadas a agressão sofrida. Geralmente nos casos de suicídio, vê-se que os jovens tentam lhe dar com esse problema sozinhos, e essa não é a situação recomendada. É muita carga para crianças de 11, 12, 13 anos, abraçarem por sua conta. Além disso, seguem abaixo algumas outras ações que podem ser tomadas nesses casos:
  • Não responda a mensagens de Cyberbullyies. Mesmo que você esteja muito tentado a fazê-lo, é exatamente esse o intuito deles. Eles querem saber que você ficou nervoso ou assustado. Ignore-os.
  • Jamais mantenha isso em segredo. Você não está sozinho e a culpa não é sua. Procure imediatamente seus pais, tutores e/ou responsáveis e informe-os do acontecido.
  • Não delete as mensagens dos Cyberbullyies. Você não é obrigado a ler a mensagem ofensiva diariamente, mas mantenha sempre uma cópia dela pois trata-se da evidência de um crime e poderá conter informações relevantes, como a origem da mensagem. A polícia, os provedores de Internet e as companhias telefônicas poderão auxiliá-lo através dessas evidências.
  • Anote todas as informações referentes a agressão. Se o seu perfil de rede social foi roubado ou se existe um “fake” com seu nome, salve todos os links e grave as telas se possível.
  • De preferência, grave todas estas evidências em CD/DVD/Pen-drive ou num outro tipo de mídia externa, pois pode acontecer do Cyberbullyie remover seus rastros sem que a polícia tenha tempo hábil para analisá-los, seu computador ser comprometido por um vírus ou mesmo danificado.
  • Avise os seus amigos sobre a página “fake” do seu perfil. Isso evitará mal entendidos e evitará inclusive que seus amigos e familiares caiam em golpes de estelionato emitidos em seu nome.
  • Denuncie o perfil falso aos responsáveis pelo serviço. Praticamente todos eles possuem uma opção para denunciar perfis falsos ou roubados.
  • É possível tentar resolver a situação diretamente com o Cyberbullyie caso eu saiba quem ele(a) é? É possível, mas nem sempre recomendado, principalmente nos casos onde “diálogo” é um problema. Gera stress em demasia e não pune os responsáveis. Uma denúncia em delegacia levada até as últimas conseqüências poderá nos ajudar a ter uma Internet mais “limpa”.
  • Geralmente o Cyberbullyie ou seus responsáveis alegarão que estavam apenas “brincando”, que “tudo não passa de uma brincadeira de criança”, mas duvido que você tenha se divertido. Portanto DENUNCIE.
Que tipo de informações devo salvar? Essa é uma pergunta bem comum nesses casos, e a recomendação é: colha o máximo de informações que puder sobre o ocorrido. Se for numa rede social, por exemplo, registre o endereço da página onde aconteceu a ofensa (URL completa, se possível), nome ou apelido do agressor, data/hora do ocorrido, imagem salva da tela e se possível encontre alguém que possa servir de testemunha da agressão. No caso de precisar salvar uma tela, por exemplo, existem programas que podem fazer cópias da página para o seu computador (para que sejam lidas offline), como o HTTrack, mas na falta dele até o famoso "print screen" há de servir. Abaixo, uma tela do HTTrack fazendo a cópia de um website:


 Nos software de mensagens instantâneas, a recomendação é a mesma, procure salvar o máximo de informações que puder sobre a agressão, de preferência com cópias da tela. Quanto as mensagens de e-mail, reitero que é muito importante que elas não sejam apagadas, pois podem conter informações valiosas que podem levar ao agressor. Geralmente os webmails e leitores de e-mail não exibem todas as informações do cabeçalho do e-mail, mas ainda assim as informações continuam existindo. Veja na imagem abaixo, um e-mail recebido numa conta do Gmail, o que acontece quando mandamos exibir a "mensagem original" , ou seja, com todos os seus cabeçalhos:


 O corpo da mensagem que vemos normalmente, está lá nas últimas 5 linhas. Todo o resto pertence ao cabeçalho de e-mail que fica oculto pela aplicação. Portanto novamente, não delete essas mensagens. Para fazer uma denúncia, você deve procurar uma DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos). Aqui no RS, o e-mail da DRCI é drci@pc.rs.gov.br e seu perfil no Twitter é @drci_rs. Na falta de uma delegacia especializada, qualquer delegacia serve, o importante é fazer a denúncia. Só dessa maneira teremos uma Internet mais limpa. As denúncias também podem ser realizadas através da página da Polícia Civil do RS, no endereço http://www.pc.rs.gov.br através do link "Crimes via Internet" como exibido abaixo:


Encaminhando-se para o fim deste post, quero recomendar o livro "Bullying e Cyberbullying - O que fazemos com o que fazem conosco?" da Maria Tereza Maldonado (Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-RJ). Os vídeos da autora comentando sobre o livro podem ser vistos aqui e aqui no "Palavra do autor" da editora Moderna. E esta é uma abordagem muito interessante, pois já no título expõe a possibilidade de tirar o poder do agressor sobre a vítima. O que fazer com o que fazem conosco? Como recebo esse tipo de agressão? Como deixo isso influenciar minha vida? Que habilidades posso desenvolver para que isso não me afete? Enfim, é uma obra muito interessante e recomendo a leitura. 

O título do livro inclusive, me remeteu outro pensamento que me parece também uma abordagem interessante. Vemos diariamente casos negativos envolvendo o bullying/cyberbullying, mas que tal focarmos também nas pessoas que passaram por isso, que procuraram ajuda e que venceram? É sabido que o envolvimento de "celebridades" em causas sociais não chega a ser uma novidade, porém nos casos de bullying, manda uma mensagem bem importante, principalmente junto ao público infanto-juvenil: "Eu já me senti como você está se sentindo hoje. Desesperado, sem esperança, desacreditado, mas veja o que eu fiz da minha vida! Superei e veja até onde eu cheguei". Saí então Internet afora, buscando casos de celebridades que já sofreram com bullying/cyberbullying e veja abaixo o resultado (fontes das informações Huffington Post e UOL Educação):


Sandra Bullock
Quando voltei da Europa para a escola eu parecia uma palhaça se comparada a maneira legal como os outros alunos se vestiam. Então pegavam muito no meu pé.... As crianças são perversas, e o triste é que eu continuo me lembrando do nome de todas as crianças que eram más comigo.”

 Justin Timberlake
Eu cresci no Tennessee, e se você não jogasse futebol americano você não era homem. Eu era estigmatizado frequentemente por ser músico e artista. Eu era um pária em diversos sentidos... mas tudo o que eles dizem para pegar no seu pé ou que te fazem sentir estranho é essencialmente o que te fará sexy quando adulto.

 Miley Cyrus
Elas eram garotas enormes e eu era pequena e magricela. Elas me empurraram e me trancaram numa peça. Eu bati naquela porta até machucar meus pulsos. Ninguém veio. Eu passei quase uma hora lá esperando que alguém viesse me resgatar, tentando imaginar quando a minha vida se tornara essa bagunça”. Da sua auto biografia “Miles to go”.

Christian Bale
Eu apanhei de alguns garotos por anos a fio. Passei por um inferno pois eles me socavam e chutavam o tempo todo.”, bale contou a revista People. E adicionou “Se você consegue enfrentar o bullying na escola e manter-se forte, é uma lição para toda a vida.


Eminem
O cantor Eminem afirma ter sofrido bullying na escola e diz que chegou a perder temporariamente a visão de um olho por conta de agressões sofridas no colégio.

 Jessica Alba
Eu sofria tanto bullying que meu pai precisava me levar para a escola para eu não ser atacada. Eu almoçava no ambulatório para não ter de sentar com as outras garotas. Meus pais não tinham dinheiro, então nunca tive as roupas ou mochilas bacanas das outras meninas.

 Lady Gaga 
A cantora Lady Gaga contou que já foi jogada em uma lata de lixo por alguns garotos. Ela também sofreu outras formas de bullying: ''Já escreveram palavrões no meu armário na escola".

 Priscila Machado
Nem a Miss Brasil 2011 escapou do bullying. Priscila Machado ''era a 'Olívia Palito', a magricela do colégio. E tinha problema com namoradinhos porque era mais alta, então ninguém queria ela'', contou o irmão e preparador da Miss, Thiago Costa.

 Robert Pattinson
"Eu apanhei muito quando era mais novo. Eu era um pouco idiota, mas sempre achei que me batiam sem motivo. Foi antes de me tornar ator e eu gostava de me comportar como um ator, ou como eu achava que um ator se comportaria e isso aparentemente fez com que várias pessoas me batessem."

Esses são só alguns casos de pessoas que atingiram determinado sucesso e que também passaram por esse problema. Mas a lista não acaba por aí. Veja na imagem abaixo, outras pessoas que também venceram o Bullying/Cyberbullying (fonte Huffington Post e UOL Educação). 

 O importante, o que fica desse cenário é que precisamos educar nossas crianças e adolescentes, deixando-lhes muito claro que bullying e cyberbullying não se tratam apenas de uma brincadeira. Mais importante ainda é elucidar que elas não estão sozinhas e que, no caso de serem vítimas desse tipo de agressão, devem procurar ajuda. Lidar com isso sozinhas pode inclusive gerar uma sensação de impotência e agravar o problema. Costumo terminar as palestras que ministro sobre Cyberbullying nas escolas com a seguinte frase: O Bullying e o Cyberbullying, se alimentam do silêncio das vítimas!

Pense nisso.

Se você quiser saber mais sobre esse tema, recomendo-lhe os seguintes sites:

www.denuncie.org.br
www.safernet.org.br (em português, também é possível fazer denúncias)
Saferdic@s da Safernet Brasil: www.saferdicas.org.br/site/prevencao
http://www.bullying.pro.br (em português, ótima referência)
http://www.criancamaissegura.com.br (em português, bem educativo)
www.criancamaissegura.com.br - Cyberbullying é fria (vídeo sobre Cyberbullying)
http://www.internetresponsavel.com.br/professores/cyberbullying.php (em português, bem educativo)
PLAN – ONG voltada para a defesa dos direitos da infância 
http://www.plan.org.br/publicacoes/download/cartilha_enfrentamento_bullying.pdf
http://www.plan.org.br/publicacoes/download/cartilha_bullying_para_professores.pdf
http://www.plan.org.br/publicacoes/download/Gibi_Bullying_Escolar.pdf
www.cyberbullying.org (em inglês)
www.stopcyberbullying.org (em inglês)
http://www.childhood.org.br (em português)
Cartilha Navegar com Segurança da ChildHood: http://www.childhood.org.br/programas/navegar-com-seguranca

t+

Cristiano

"A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las." - Aristóteles 

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